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Ed. 01 - Exercícios de paciência e certezas que oscilam
O próximo passo em direção ao afro:futuro
Às vezes, um tempo longe pode ser a melhor coisa para querer retornar.
Quando terminei minha pesquisa no mestrado, em 2019, entendi que precisava me afastar um pouco dos estudos acadêmicos. Apesar de nunca ter deixado de ler e elaborar reflexões sobre afrofuturismo, havia em mim uma necessidade de descansar e uma vontade de me dedicar mais à escrita ficcional. Por isso, não quis emendar o doutorado em seguida.
2019 também foi o ano em que publiquei Oceanïc, minha primeira obra ficcional. Nessa época, pensar o afrofuturismo a partir da escrita e também de forma teórica gerava alguns sentimentos conflitantes. Quanto mais avançava nos estudos acadêmicos, mais sentia minha criatividade sufocada, porque buscando entender os elementos conceituais do afrofuturismo, comecei a acreditar que minhas histórias só teriam valor se seguissem à risca esses mesmos elementos, ou seja, se fossem DE FATO afrofuturistas.
Hoje entendo que existia em mim a ideia de que só podemos nos dedicar a uma coisa, que só podemos ser realmente bons em uma coisa. Havia também insegurança em me afirmar como escritor e como um artista que se expressa de diversas formas. Faltava também entender que essas formas distintas não precisam brigar entre si. Todas nossas referências, de um jeito ou de outro, influenciam nosso trabalho. Além de tudo, criatividade envolve processos que nem sempre são explicáveis e muito menos precisam de validação teórica. O melhor a fazer é deixar fluir, se entregar, colocar o máximo de si sem se preocupar com a recepção — ou pelo menos fazer o possível para criar livremente.
Nesses últimos anos, eu tinha certeza de que, cedo ou tarde, sentiria vontade de continuar meus estudos acadêmicos. Era uma certeza que oscilava por eu não saber quando seria o melhor momento. Exercitar a paciência foi importante porque tenho certa dificuldade em tomar algumas decisões, principalmente relacionadas a trabalho. “Devo fazer isso agora?”, “Não é melhor esperar um pouco?”, “E se quando eu fizer não houver ninguém interessado em me ouvir?”. São perguntas que sempre perpassam minha mente, principalmente ao lidar com redes sociais, porque acompanhando essas questões, há o receio de perder relevância e de ser esquecido.
Mas cá estou, iniciando uma newsletter.
Criei essa newsletter porque entrei para o doutorado agora no início do ano e quero um espaço para compartilhar algumas reflexões. Faz um tempo que pensava em ter um lugar para textos mais ensaísticos e (por que não?) mais íntimos. Serão quatro anos até eu terminar de escrever minha tese e estou animado para, lá no futuro, olhar para trás e ver no que isso tudo se transformou.
No dicionário, “especular” possui várias acepções. Entre elas estão “estudar com atenção, pesquisar, investigar, refletir, teorizar”, mas também há outra noção de “refletir”, no sentido de espelho, da imagem invertida que vemos do mundo real. Por isso “Diário Especulativo”, pois a ideia é trazer registros investigativos, estudos, teorizações, reflexões e o que mais eu achar que precisa ser colocado diante do espelho.
Quero aprender e me divertir ao longo do caminho. Espero que você também aprenda e se divirta. Se você está lendo este primeiro texto, é muito provável que conheça alguma dimensão do meu trabalho, seja como escritor de ficção ou como pesquisador. Aqui você encontrará um pouco dos dois. E caso esse esteja sendo nosso primeiro contato, espero não decepcionar. De qualquer forma, agradeço pelo seu voto de confiança, pelo interesse ou pela curiosidade em saber como esse projeto vai se desenvolver. Torço para que goste das especulações feitas aqui.
Então, vamos nessa?
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